Freixo de Espada à Cinta, terra de sorrisos tão largos como o horizonte

As paisagens, a história, a arquitetura, as festas, a gastronomia e os vinhos e a fabulosa Praia Fluvial da Congida em Freixo de Espada à Cinta, são os ingredientes perfeitos para uma experiência inesquecível, recordada sempre, com um enorme sorriso e uma vontade imensa de repetir.

“O sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez”, assim escreveu o poeta natural de Freixo de Espada à Cinta, Guerra Junqueiro, uma frase que percebemos ao visitar este concelho, tão longe de “Portugal”, tão próximo da Europa, quase colado ao céu.

Freixo de Espada à Cinta é o exemplo claro do que vulgarmente se chama “Portugal profundo”. Situado no sul do distrito de Bragança, tem o Douro a seus pés e é nele que o concelho bebe a essência e a determinação para ser autêntico e irreverente.

O Penedo do Durão, com 550 metros de altitude, mostra a força do Douro que rasgou a pedra para seguir o seu caminho, criando arribas difíceis de domar pelo homem. Mas a determinação dos freixenistas foi maior e, nessas arribas, fizeram crescer vinhas, olivais, laranjais, amendoais, mostraram que até a terra aparentemente mais rude é possível ser fertilizada e amaciada, dando lugar a vinhais capazes de produzir vinhos de alta qualidade, olivais com excelentes azeites, amendoais e laranjais, com a mais doce amêndoa e a mais suculenta laranja que podemos experimentar. Contemplamos a paisagem e somos abraçados por um sorriso, colhemos a fruta na árvore e de novo um farto sorriso, brindamos com o néctar de baco e o sorriso perdura.

Freixo de Espada à Cinta quer ser tocado, provado, sentido.
Descemos até à albufeira da Congida e encontramos um pequeno paraíso na terra. As elevadas temperaturas são amenizadas pela brisa que se refresca no rio Douro e nos bate no rosto. Retemperamos o corpo com um passeio de barco, calmo, sem pressas, pelo rio Douro.
Um passeio relaxante, complementado com uma prova de vinhos da Quinta dos Castelares, um projeto familiar, liderado pelo patriarca Manuel Caldeira, viticultor desde que nasceu, defensor do potencial agrícola da região e das suas castas autóctones, Códega do Larinho (vinhas) e Negrinha de Freixo (Oliveiras). Foi o genro, Pedro Martins, que nos ensinou a “descobrir o Douro” através dos vinhos, sublinhando a importância de preservar as castas autóctones, a identidade e a autenticidade, ao mesmo tempo que se introduz atrevimento em cada colheira, audácia em cada produção.
E que bem que nos caiu esta prova de vinhos adoçada com bolinhos de amêndoa (as queijadas de amêndoa, as amêndoas fritas, os arrepelados, os beijos de preta, as cerejas, as castanhas, os pêssegos e os CDS).

A vila mais manuelina de Portugal
Ouvimos esta frase e não nos saia da cabeça, nem podia, porque quando caminhávamos pelas ruas de Freixo, a cada passo o olhar nos mostrava portas e janelas tipicamente manuelinas. Dizem que há mais de uma centena de molduras manuelinas, entre portadas e janelas.
Visitamos a Igreja Matriz, também conhecida pela Igreja de S. Miguel. A fachada simples exibe uma elegante portada em arco decorada com motivos tipicamente manuelinos: conchas, cordas, corais, folhas, alcachofras, animais, seres imaginários e exóticos.
No interior a presença do escudo e esferas armilares na abóbada da capela-mor, sublinham o estilo manuelista. Neste templo existe uma coleção de 16 quatros de marcado estilo de Grão Vasco.
Muito perto da igreja a torre heptagonal, conhecida por Torre do Relógio ou Torre do Galo, é o marco imponente do que em tempos foi o castelo de Freixo de Espada à Cinta. Subir os cem degraus, 25 metros de altura, até alcançar a torre sineira é um esforço que vale bem a pena, pela vista deslumbrante sobre a vila que proporciona. E a seus pés, o centenário Freixo, atualmente com uma espada à cinta, para fazer jus ao nome da localidade. Há muitas lendas em torno do nome Freixo de Espada à Cinta. Uns dizem que teve origem no nome de um fidalgo godo “Espadacinta”, outros no brasão de um fidalgo leonês que tinha um freixo e uma espada ou, ainda, na lenda que diz que D. Dinis rei de Portugal, quando fundou a localidade no séc. XIV, amarrou a sua espada a um freixo, antes de se encostar à árvore a descansar.

Suave e delicada como a seda
Assim sentimos Freixo de Espada à Cinta. Apesar da austeridade de paisagens como a que nos oferecem a maioria dos miradouros, sentimos esta vila com enorme suavidade e delicadeza. Sentimos este “toque” no trato com a sua gente, na hospitalidade, quiçá porque aqui neste lugar, há histórias e estórias tecidas com fios de seda. A cultura da Seda é praticada em Freixo de Espada à Cinta desde um período anterior ao século XVII e tem-se mantido nos mesmos moldes artesanais até aos dias de hoje. Esta arte desenvolve-se através de um ciclo, que tem início na cultura da amoreira para produção e colheita de folha, o único alimento do bicho-da-seda. A fase seguinte consiste na criação propriamente dita do bicho-da-seda. No Museu da Seda e do Território existem meia dúzia de teares onde as escassas artesão locais tratam de todo o processo de produção da seda e no mesmo lugar a tecem, dando origem a pequenas e valiosas peças, que além da fina matéria prima, possuem muito conhecimento ancestral, muitas horas de trabalho e uma forte indispensável dose de amor à arte.
A autarquia está empenhada em preservar esta atividade que, afinal, é uma das mais fortes marcas identitárias do concelho. Por isso celebrou num protocolo com o Castelo de São Jorge, na capital do país, para onde enviam boa parte das peças produzidas. Mais seda houvesse e mais artesãs, porque procura não falta.
Falamos de um concelho imensamente rico em natureza, paisagem, cultura e património, rico nas suas produções agrícolas e, ao mesmo tempo, tão humilde no trato, disposto a partilhar todas estas riquezas com quem as souber valorizar.

Gastronomia e Vinhos
A nossa visita a Freixo não contemplou refeições especificamente trabalhadas e preparadas para impressionar turista. Frequentamos os restaurantes da terra e pedimos os pratos do dia a dia. A primeira grande surpresa, quase assustadora, vivemo-la no Restaurante Zona Verde. Pedimos uma posta de vitela e quando chegou verificamos que tinha exatamente o tamanho do prato. As batatas vinham ao lado, os dois portobellos que acompanhavam, vinham em cima da carne, nitidamente por falta de espaço. A costela grelhada era deliciosa, mas conseguir ingerir tal quantidade não é para todos.
Quando visitamos a Congida optamos por petiscos, como moelas estufadas, orelha, pezinhos de coentrada, rojões, e outros que tais, com pão e salada e um refrescante copo de vinho.
E porque à noite havia arraial em honra de Sto. António, juntamo-nos à comunidade local a comer caldo verde e bifanas.
O arraial popular foi um dos momentos mais divertidos desta experiência, horas a fio a dançar ao som do “conjunto” e a sorrir sem parar, a sorrir e a pensar “há tantos anos que não fazíamos isto”.

Hotel Freixo Douro Superior
No cimo da vila nasceu o Hotel Freixo Douro Superior. Um hotel com 4 estrelas, 63 quartos, que tem uma zona exterior deslumbrante.
Tivemos o privilégio de apanhar uma Wine Party com música ao vivo. O talentoso jovem artista Romeu Mota (concorrente dos ídolos), encheu de glamour um espaço que por si já nos tinha encantado.

Tudo era perfeito, a música a degustação de produtos locais e a provada de vinhos. Tudo ao lado da piscina infinity, onde literalmente podemos admirar até ao infinito a bela e sorridente vila de Freixo de Espada à Cinta. Fomos recebidos pelo Diretor do Hotel, na pessoa de Rui Nunes, com um abraço enorme e com vontade de voltar em Agosto nas Festas de Nossa Senhora dos Montes Ermos.
Não se esqueçam “o sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez”, e nós queremos voltar!

Com a colaboração de Ana Fragoso

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