Beiras e Serra da Estrela, para além da neve!

Numa viagem de descoberta às Beiras e Serra da Estrela , encontrámos a simplicidade, a autenticidade e a veracidade de lugares que nos proporcionaram experiências com saberes e sabores únicos que estamos ansiosos para repetir.
Olhamos para trás, relembramos os dias que vivemos em terras abençoadas da Serra da Estrela. Atravessam-nos na memória dias frios e luminosos que ficaram gravados como muito especiais (inspiramos e expiramos).
O convite era desafiante, explorar as Beiras e Serra da Estrela, para além da neve! E assim foi…

Durante três dias fizemos uma viagem ao interior, em contacto estreito com os costumes, saberes e sabores, natureza e património.
Advertimos que a vontade de preparar as malas depois de ler o artigo vai ser enorme, por isso, comece já a olhar para o calendário nestes próximos dias!
Já a caminho da Quinta da Ronda no Minhocal (Celorico da Beira), os anfitriões, o Sr. Francisco e sua mulher, receberam-nos com um sorriso rasgado! Com uma gesticulação animada, queriam sobrepor as suas vozes alegres, tentando dar o máximo de informação sobre tudo que íamos fazer de seguida. Antes de nos colocarmos, literalmente por caminhos de cabras, despimo-nos de todas as ideias que levávamos para a viagem como uma das experiências mais simples e arrebatadoras. Tivemos a oportunidade de acompanhar a rotina diária de um pastor. Levar o rebanho para pastar, acomodar as ovelhas na curriça, alimentá-las e acarinhá-las.


É desse cuidado e desse carinho, que resulta um rebanho “feliz” e “ovelhas felizes”! Produzem leite em maior qualidade e quantidade e melhor, segundo o Sr. Francisco. É aqui que está o segredo do famoso Queijo da Serra da Estrela DOP – na qualidade do leite!
A alimentação natural baseada no que a serra dá é fundamental, mas é também necessário acrescentar à qualidade da matéria-prima o “saber fazer” ancestral. Celorico da Beira é considerada a capital do Queijo da Serra da Estrela, e nós tivemos o privilégio de observar a sua produção, de forma artesanal, deste produto de excelência.


A melhor “prova” fizemos no Solar do Queijo, ainda em Celorico da Beira. A água crescia na boca só de olhar e sentir o aroma, o que nesta experiência se tornou num casamento perfeito com muitas outras iguarias da terra, como o salpicão e o presunto, acompanhado por um bom vinho na púcara e pão regional.


Incrivelmente satisfeitos com as vivências e as experiências, começamos a sentir a Serra de uma forma muito mais profunda.
Seguimos para Fornos de Algodres, onde nos esperava uma nova experiência gastronómica. No Lagar do Cadoiço almoçámos uma Lagarada feita com o “fiel amigo” bacalhau nas brasas da fogueira da lareira à moda antiga (batata a murro com bacalhau, cebola e azeite do lagar). Estes sabores conseguiram-nos levar automaticamente para memórias da nossa infância em casa dos nossos avós. Que saudades! Que momentos mágicos! Ficámos ancorados nesta experiência.
Quando o testo da panela foi momentaneamente retirado, do interior surgiu um intenso e perfumado vapor que se espalhou pela sala, só o olfato já nos deliciava!
Reza a história e o nosso palato, que comer uma lagarada assim nunca se esquece na vida!
Ainda no mesmo local tivemos a oportunidade de experimentar pela primeira vez produtos artesanais feitos com urtiga, como pão, cerveja artesanal, queijadas e muffins. Para quem desconhece, existe em Fornos de Algodres, a Confraria da Urtiga, criada em 2009 com o objetivo de defender, valorizar e divulgar a URTIGA, rainha de todas as plantas! Foi uma honra termos tido a sorte de conhecer membros da Confraria e sabermos mais um pouco sobre os benefícios desta planta.
Simpaticamente os proprietários do lagar mostraram-nos o método de produção do azeite, o ouro líquido. O azeite “Lagar do Cadoiço” é um produto 100% natural, obtido exclusivamente por meios mecânicos sem adição de quaisquer químicos (excelente).


De seguida, uma visita ao Centro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres (CIHAFA), permitiu-nos perceber as raízes deste local, interpretadas a partir do património arqueológico do concelho. Partimos à descoberta de Arte Urbana ainda em Fornos de Algodres e ficámos fascinados com o Mural com 25 metros de comprimento pintado por Sérgio “Odeith”. Aí pudemos apreciar uma criança a brincar com um carro no deque da Praia Fluvial da Ponte de Juncais, um turista a contemplar a paisagem e o Dólmen da Matança não deixa qualquer um indiferente. É uma obra de arte! Podemos igualmente encontrar mais dois murais, um a homenagear o fadista António Menano, natural do concelho e o outro homenageando os profissionais de saúde durante a fase da pandemia que atravessamos. Se passarem por aqui, visitem estes Murais, pois, vale a pena!


A noite chega mansa e serena, mas o frio aperta. Chegámos a Figueira de Castelo Rodrigo, uma nova arrebatadora experiência gastronómica espera-nos. Um jantar na “Saborearia”, antiga mercearia dos anos 20, repleta de história, foi o lugar escolhido. Uma explosão de sabores únicos com o menu degustação “às cegas”. Um autêntico desfile de sabores requintados, trabalhados com muito amor. Não vamos desvendar o menu, mas que era soberbo sem dúvida que era! (promete um serão intimista). O jantar foi acompanhado com vinhos da região, branco e tinto, que davam vontade de olhar para as garrafas e assobiar.
Cativou-nos a paixão que luzia no olhar do Daniel e da Rita, os anfitriões, quando orgulhosamente nos falavam sobre o seu projeto. Sempre com muita alma, conversas intensas que ficam guardadas a sete chaves nas nossas memórias. Um conceito diferente, arrojado, que acompanha uma experiência única e divinal. Para nós uma referência na região. Se quiser alimentar o corpo e a alma já sabe a nossa dica.
A vontade de conversar interminavelmente e de beber mais um copo era muita, mas às doze badaladas, tipo Cinderela, rumámos para o nosso destino, aldeia histórica de Castelo Rodrigo e Casa da Cisterna. Uma guest house cheia de charme e requinte com um quarto aconchegante bem quentinho.


Ana Berliner recebeu-nos de sorriso aberto, e um cheirinho perfumado delicioso a pão de ló invadia a casa. Sentimo-nos bem, e piscámos o olho um ao outro, sim, nós falamos com os olhos. Os troncos na lareira crepitavam e o frio só se fazia sentir fora.
Ser feliz é recordar os pequenos grandes momentos e colar na alma todos os instantes. Dormimos que nem uns anjos!


Na manhã seguinte esperava-nos um pequeno-almoço dos Deuses. Se gula é pecado, depois de passar pela Casa da Cisterna todos temos um lugar no inferno. Produtos regionais de excelente qualidade e caseiros. Detalhes e pormenores que encantam. Voltaremos novamente, sem dúvida!
Estávamos curiosos por nos perder na aldeia histórica, tanto para descobrir. Em cada recanto se respira história e um enorme respeito e admiração pelos legados do passado.
A aldeia é no seu todo, um autêntico espaço monumental com importantes referências à época medieval. As muralhas, as ruínas do palácio de Cristóvão de Moura, o Pelourinho quinhentista, a igreja matriz, a cisterna medieval e os vestígios que atestam a presença de uma importante comunidade de cristãos-novos.


Partindo do património histórico seguimos por caminhos de natureza que se cruzam com caminhos de fé. Visitámos o Cristo Rei na Serra da Marofa, quase a mil metros de altitude. A vista é deslumbrante e alcança seis concelhos.
A caminho de Barca D´Alva, com o rio Douro a aproximar-se, apaixonamo-nos pela paisagem. . Ainda praticamente em estado natural, é possível olhar para a paisagem do Douro e Águeda. Este local é também sobrevoado por aves de rapina que simplesmente dançam na paisagem, tornando este lugar ainda mais idílico. Recomendamos o Miradouro da Sapinha para tirar umas excelentes fotos e apreciar o que é belo.


O estômago já dava horas, precisávamos de degustar algo saboroso. Tínhamos a certeza de que o almoço no Restaurante o Lagar, em Escalhão, Figueira de Castelo Rodrigo nos iria reconfortar. Pratos que desafiam os olhos e o paladar. Nas entradas, destaca-se a morcela doce de Escalhão e a tábua do lagar. É de experimentar a lagarada e bochechas de porco bízaro com borras. De sobremesa não resistimos ao “comer e chorar por mais”, uma sobremesa dos deuses, feita com doce de ovos, bolacha e amêndoa. Para os amantes de chocolate, uma mousse com azeite que é deliciosa. Para os apreciadores de vinho, aqui nunca faltam para brindar à vida.
Mais uma vez uma experiência única e inesquecível e agradecemos aos anfitriões pela forma como nos recebeu. Sem dúvida que recomendamos!


Marialva foi a paragem que se seguiu e fica a poucos minutos da cidade de Mêda. Mais uma Aldeia Histórica de Portugal, simplesmente deslumbrante e mágica que parece ter cenários de um filme. Quanto calor emana desta aldeia de pedra, quanta história, quanto orgulho. Dá vontade de nos perdermos no tempo nesta aldeia medieval.
Já estava na hora do jantar pois não demos pelo tempo a passar enquanto fotografávamos o Pôr-do-sol em Marialva.


O Município de Pinhel e a Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior, promoveram a sexta edição da Beira Interior – Vinhos & Sabores, depois de uma pausa forçada em 2020.
Integrado no certame, nesta última edição, surgiu a iniciativa “País das Maravilhas”, promovida em parceria com o projeto “7 Maravilhas de Portugal”.
Degustámos as 7 maravilhas da nova gastronomia, eleitas em 2021, bem como os vinhos que acompanharam estas iguarias.
Foi igualmente uma experiência muito especial e certamente que voltaremos. Fica a dica!


Estávamos cansados, mas felizes. Seguimos para as Encostas do Côa para dormir numa casa numa árvore. Uma experiência diferente, uma solução de alojamento prática, divertida e com o conforto necessário, para repousar e recuperar forças para mais um dia de aventuras.


O terceiro e último dia de viagem foi mesmo de aventura, de adrenalina na cidade de Pinhel, cidade Falcão, Cidade do Vinho 2020/2022.
Entregamos o nosso destino nas mãos do Clube Escape Livre e deixamo-nos levar, num fantástico e emocionante Raid TT Vinhos da Beira Interior.
Numa região altamente dotada de vinhos de grande qualidade, é no concelho de Pinhel que este passeio é centralizado. A produção vitivinícola dá o mote às descobertas por um palco intrincado de caminhos.
A etapa que fizemos foi curta, mas hilariante, num trajeto que vai de Valbom a Santa Eufêmia, subindo à Capela de S. Pedro, logo após o limite do concelho.
O trajeto reserva alguns encantos de uma ruralidade acrescida e coloca-nos de novo em Pinhel, para uma visita guiada ao longo do Caminho da Ronda.
Com os participantes do Raid TT fizemos uma extraordinária viagem na história, pelo Castelo de Pinhel e as duas torres seculares. A torre de menagem e a sua janela manuelina e as marcas de pedreiro gravadas nas pedras. Está classificado como Monumento Nacional desde 1950 e do alto das torres é possivel observar a cidade, o Vale do Côa e o Castelo de Almeida.


Percorrendo as muralhas recentemente requalificadas, o percurso entre a porta de Marialva e a porta de Marrocos é imperdivel, passando por cima da porta de Alvacar, a mais antiga e possivelmente a mais antiga das cinco portas.


Depois de recuperar forças um farto e fantástico almoço no restaurante “Entre Portas”.
O desfile de pratos para as outras mesas era cheiroso, harmonioso, criativo com um aspeto divinal que enche o palato dos amantes da boa gastronomia.
Iniciámos com um creme de abóbora com laranja, morcela de Pinhel e amêndoa, seguido de bochechas de porco confitadas com esmagado de favas e alheira. Para sobremesa brownie de chocolate com frutos secos e gelado. Escolha acertada e perfeita.
Recomendamos o “Entre Portas” sem hesitar.


Ainda tivemos tempo para um último passeio pelo Parque Municipal da Trincheira.
Um espaço natural, muito bem tratado, com vista panorâmica sobre o Vale de Côa e a cidade de Pinhel.
Neste parque procurem o Photopoint não deixem de registar o momento da vossa passagem por este lugar fantástico.


Ainda alguém quer visitar APENAS a neve no Parque Natural da Serra da Estrela? Duvidamos muito. O conselho que vos damos é partir à descoberta dos 15 municípios das Beiras e Serra da Estrela.
Foi uma imersão de portugalidade, experiência única e inesquecível esta viagem pelas Beiras e Serra da Estrela. Vai ficar guardada na nossa série de momentos felizes.
Agradecemos a todos que diretamente ou indiretamente fizeram parte dela.
Um bem-haja!

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