Tasca do Zé Tuga gastronomia com arte e sabor a poesia

Com Ana Fragoso

Nem os paladares mais esquisitos e requintados ficam indiferentes à audácia, à criatividade, à inovação, aos casamentos improváveis e atrevidos que o Chef Luís Portugal serve à mesa.

Foto: Mário Cerdeira

“Comer e conversar basta começar!”

Este ditado assume especial verdade na Tasca do Zé Tuga, em Bragança.

O galardão Bib Gourmand, do Guia Michelin, já nos dá promessas de satisfação, o que não nos conta e é preciso experimentar para descobrir, é que o “Zé Tuga”, que é o Chef Luís Portugal, para além de ter o talento para cozinhar na ponta dos dedos, tem sempre a prosa pronta, na ponta da língua. E não falamos de conversas de circunstância, sobre o tempo, a vida, os anos que passam, o que ele nos conta, absorvendo a nossa total atenção, são histórias, condimentadas com amor e humor.

Para que nada falte na Tasca do Zé Tuga a música está presente, na sala de refeições ou nas esplanadas da rua, quase como uma banda sonora que ajuda a criar momentos memoráveis.

À Tasca do Zé Tuga não se vai simplesmente para comer. Quem vai tem de ter espírito aberto para experimentar sabores, para criar relações de paixão com a arte de degustar.

O Chef faz poesia, com os tachos e panelas, que serve à mesa. Nem os paladares mais esquisitos e requintados ficam indiferentes à audácia, à criatividade, à inovação, aos casamentos improváveis e atrevidos, que são, quase sempre, os que surpreendem e que escrevem histórias.

Ai se vos pudesse, com palavras, descrever as emoções que desperta o Chocolate do Chef, com flor de sal e pimenta rosa… as sensações de beber, à colher, uma simples sopa de cinco abóboras confecionada sem água nem sal, a degustação de um naco de vitela que se derrete na boca, tornando quase dispensável a mastigação. Se vos pudesse transmitir o prazer de provar uma trufa de butelo e casulas, coroada com um chutney e rebentos de mostarda…

Foto: Manuel Teles

 E nunca faltam os bons vinhos para brindar à vida.

Luís Portugal não guarda segredos na cozinha, partilha-os sem reserva com quem o visita. Não tem medo que outros lhe copiem as receitas porque as dele têm sempre dois ingredientes especiais, impossíveis de plagiar: as memórias e aprendizagens que colheu no seio familiar e a verdadeira devoção pelos alimentos, que transforma em deliciosos pratos, apurando o melhor da essência da matéria-prima.

O Chef podia ser pintor, podia ser escultor, podia ser escritor, podia ser poeta, não é… mas acaba por ser tudo isso, quando, no seu processo criativo, pensa nas cores do prato, nas suas formas, na mensagem que precisa transmitir, nas emoções que pretende despertar.

O resultado, quando chega à mesa, é pura magia, admirada pelos apreciadores do requinte, da perfeição à mesa, admirada igualmente por quem nada entende de culinária e menos ainda de gastronomia, que mesmo assim não pode, porque não consegue, ficar indiferente aos sabores que experimenta.

Na Tasca do Zé Tuga tudo é genuíno, autêntico, original e irrepetível, tal como o Chef que criou esta Casa, hoje uma referência da alta gastronomia em Bragança, em Trás-os-Montes e em Portugal.

Foto: Mário Cerdeira

“Cozinha com Memória”, Luís Portugal e Pedro Jorge lançam livro de histórias com receitas à mistura

Conheceram-se no programa da TVI Master Chef que, em tempos diferentes, projetou ambos para a ribalta da gastronomia em Portugal. Um menino atualmente com 14 anos e um senhor de 50 anos que, ao primeiro olhar, descobriram uma enorme empatia, que gerou a cumplicidade que fez extrapolar a relação de amizade para uma relação de família. Autoproclamaram-se de afilhado e padrinho e assim se continuam a dirigir um ao outro.

Partilham a paixão pela transformação dos alimentos, sem adulterar sabores, partilham o gosto pela conversa e ambos têm bases familiares que condicionaram e continuam a influenciar as suas tendências na cozinha.

Da sua necessidade de comunicação permanente nasceu a troca de e-mails, onde partilhavam histórias e cada uma dava origem à troca de uma receita. Foi assim durante meses. Um dia surgiu a ideia de compilar toda esta correspondência eletrónica e publicar um livro. Não é um livro de receitas, não. É um livro de histórias e afetos que também tem receitas. Por isso este livro se torna tão especial. Para além de ensinar a cozinhar, a preparar os alimentos, a usar e a inovar com os temperos, revela um pouco dos ingredientes que são necessários para o tal “talento”.

Luís Portugal, altamente inspirado pela sua tia Ernestina afirma reiteradamente que “era amor o que a tia Ernestina punha nos tachos e nas panelas”; Pedro Jorge fala da avó Vina do avô Zé e do avô Manel, como quem fala de grandes mestres de culinária, com quem aprendeu a apreciar a comida de “tacho” e de “forno”, de igual maneira.

Percebe-se nas páginas deste peculiar livro de culinária a felicidade com que ambos contam a história associada a cada receita, ou ao contrário, o entusiasmo de fazer a receita que lhes aviva a memória com recordações felizes.

Talvez o segredo seja simplesmente este, partilhar a alegria e a felicidade, entusiasmar todos aqueles cujas memórias também lhes despertam sabores, perfumes, sensações, lembranças de simplicidade e de bem-estar. Comigo resulta.

O Livro, com prefácio do Chef Rui Paula, é publicado pela Editora Influência, tem como título “Cozinha com memória”, de autoria de Luís Portugal e Pedro Jorge, com fotografia de Mário Cerdeira, e está à venda numa livraria perto de si.

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